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5 October 2024

A empresa que realiza desejos dos super-ricos

 

  • BBC

    Funcionários que atendem superricos precisam falar diversos idiomas e ter conhecimentos especializados

    Funcionários que atendem superricos precisam falar diversos idiomas e ter conhecimentos especializados

Se alguma vez você teve problemas para escolher o presente que daria a seu namorado ou namorada, pense um pouco na situação dos super-ricos.

Enquanto que, para a maioria das pessoas, a seleção do mimo está limitada pelo orçamento, para os multimilionários as opções são ilimitadas já que, em teoria, eles podem comprar o que quiserem. A questão, portanto, é um pouco mais de logística.

Há alguns anos, um poderoso executivo britânico encontrou o presente perfeito para sua esposa, que completaria 50 anos: um show surpresa de sua cantora favorita, Annie Lennox.

Mas ao invés de ir ao concerto, ele propôs que Lennox – que ficou famosa mundialmente com o grupo Eurythmics – fosse até eles.

Mas ainda que alguém tenha dinheiro para este tipo de luxo, como se organiza um show privado de seu cantor ou banda favoritos?

Para lidar com situações como esta, um número cada vez maior de superricos em todo o mundo contrata os serviços de um setor em expansão: o dos chamados assistentes de estilo de vida.

Desconfiança do banco

Nos últimos 15 anos, o negócio de empresas que organizam a vida dos super-ricos cresceu consistentemente.

Seja contratar estrelas do pop ou atender a pedidos mais frequentes como comprar passagens de avião, conseguir um hotel ou reservar uma mesa em um restaurante luxuoso, os funcionários destas companhias se encarregam de conseguir seja o que for.

Irmãos enfrentaram resistência ao novo modelo de negócio e foram prejudicados pela bolha das empresas "pontocom"

Uma das primeiras empresas do tipo foi a Ten Group, fundada em 1998 pelos irmãos Alex Cheatle e Andrew Long e baseada em Londres.

Hoje, a Ten Group tem dois mil clientes em todo o mundo, 450 funcionários e 16 escritórios localizados desde Nova York até Xangai, desde Tóquio até San Francisco.

Atualmente, a empresa fatura US$ 38 milhões por ano e afirma que sua base de usuários está crescendo.

Nada mal para uma empresa que Cheatle e Long começaram em um quarto de sua casa em Londres, quando tinham 22 e 28 anos, respectivamente.

Cheatle teve a ideia quando trabalhava como gerente da gigante de bens de consumo Procter & Gamble. Long, por sua vez, trabalhava como organizador de eventos.

Os primeiros clientes chegaram através de amigos e conhecidos.

"No início, éramos Andrew e eu com um laptop e alguns celulares Nokia. Corríamos por toda Londres tentando resolver coisas para as pessoas", diz Cheatle, hoje com 45 anos.

"Obviamente não contávamos com a rede global de funcionários que temos hoje, de modo que não dizíamos que éramos bons, só que faríamos um grande esforço para conseguir o que nos pediam."

Mas mesmo depois que os irmãos conseguiram seus primeiros clientes de peso, o banco com que lidavam se negou a abrir uma conta corporativa porque o gerente da entidade não entendia bem seu plano de negócios.

"Ele queria que nós escrevêssemos uma estratégia detalhada, mas dissemos que não podíamos, porque antes de definir um caminho preciso queríamos saber ver como o negócio se desenvolvia", relembra Cheatle.

'Experiência de quase morte'

Funcionários que atendem superricos precisam falar diversos idiomas e ter conhecimentos especializados

Os Cheatle e Long tiveram investimentos de amigos, familiares e até de alguns dos primeiros clientes para que o negócio desse os primeiros passos.

Já em 2002, eles tinham 100 funcionários, mas a empresa teve problemas de caixa por causa do rompimento da bolha das empresas "pontocom". "Foi uma experiência de quase morte", diz Cheatle.

"O problema é que estávamos investindo muito em melhorar a qualidade do serviço, mas ainda não tinhamos alcançado o nível necessário para justificar o preço das assinaturas que queríamos fixar."

"Para nós, era uma corrida contra o tempo: chegarmos a ser suficientemente bons para justificar o dinheiro de que precisávamos para prestar o serviço."

A empresa sobreviveu depois que os irmãos decidiram diminuir seus lucros e demitir alguns funcionários.

Para os clientes privados, o custo inicial da assinatura é de cerca de US$ 1,5 mil – sem contar as despesas feitas em seu nome pela empresa, como ingressos para shows.

Isso lhes dá direito a até 30 pedidos por telefone a cada ano, além de acesso à rede da empresa. Os preços sobem se o cliente deseja um serviço mais complexo.

Parte da renda da empresa é investida na contratação de funcionários altamente qualificados. Os funcionários da empresa falam mais de 22 idiomas, incluindo mandarim e japonês, e sempre há alguém disponível 24 horas por dia.

Muitos deles também têm conhecimentos especializados, tais como especialistas em aeronavegação comercial e hotelaria, ou pessoas conectadas com a indústria da música.

'Esquisitos e maravilhosos'

Cheatle trabalha na sede da empresa em Londres e supervisiona as operações na Europa, na África e nas Américas, enquanto Long fica em Cingapura e se encarrega do mercado asiático.

"Trabalhar em diferentes fusos horários tem suas complicações, claro, mas conseguimos que tudo funcione graças à tecnologia e a confiança mútua. E, sendo irmãos, a tomada de decisões é mais rápida", diz Long, de 39 anos.

Ambos contam que, no dia a dia, o serviço mais popular da empresa é o de fazer reservas em restaurantes de luxo, já que eles podem conseguir mesas em estabelecimentos praticamente vedados aos resto dos mortais.

"Os melhores restaurantes do mundo não têm problemas em separar algumas mesas para os clientes da empresa, porque os usuários do nosso serviço gastam mais em comida e muito mais em vinhos. Eles definitivamente gostam de ostentar."

"Mas ainda recebemos pedidos esquisitos e maravilhosos. Alguém recentemente quis organizar uma festa temática sobre o Homem-Aranha para seu filho de sete anos e nos pediu que conseguíssemos um treinador de animais para que ele levasse uma tarântula de verdade