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10 May 2024

A rua alagou? Saiba como reagir e veja dicas para enfrentar possíveis danos

O processo de recuperação começa pela desmontagem dos carpetes, tapeçarias, borrachas, forrações, painéis de portas, bancos e espumas, além de módulos eletrônicos, chicotes etc. Tudo é seco e limpo com detergente e um produto bactericida, aplicado com vaporizador, a fim de tirar o mau cheiro e contaminações. O processo também é aplicado aos dutos de ventilação, em especial se houver ar-condicionado, com substituição de filtros e avaliação do estado do compressor. Após ser retirada, a espuma dos bancos é levada para uma estufa para secagem. Faróis e lanternas também devem ser desmontados, para remoção de lama e outros tipos de sujeira — se houver danos, eles são substituídos.

Na segunda etapa é feita checagem e secagem da fiação elétrica, incluindo conectores, interruptores (como os botões dos vidros elétricos), circuitos e dos módulos de controle eletrônico — aqueles que ficam expostos às intempéries, como a central de controle do motor, têm vedação contra a umidade e são mais resistentes a danos.

Mas, de acordo com Edilson de Bellis, há outros módulos, posicionados na cabine, mais suscetíveis a estragos, como o dos airbags, que em muitos modelos ficam na altura do assoalho, e de chassi, que controlam equipamentos como travas e vidros elétricos.

“Água no painel é o pior dos cenários. O líquido pode danificar itens caros, como módulos, circuitos, computador de bordo, mostradores digitais e até a operação do ar-condicionado, especialmente quando este for digital. Em muitos casos, após limpeza e secagem, dá para recuperar, mas o reparo deve ser feito o mais rapidamente possível” explica.

Quanto ao motor e câmbio, o processo é semelhante: óleos, fluidos são drenados e substituídos juntamente com os respectivos filtros, além da verificação de chicotes e outros componentes — o motor só é religado com tudo seco e em ordem. O principal problema é o famoso calço hidráulico (quando entra água no duto de admissão), que impede o curso total de um ou mais pistões, causando danos graves neles mesmos, no virabrequim, bielas e até no bloco. Por isso é tão importante não deixar o motor apagar em alagamentos — mais que isso, não tentar ligá-lo com o veículo ainda molhado. Se a água tiver entrado pelo escapamento, esse sistema também deverá ser limpo e passar por secagem.

E o seguro?

Segundo Bellis, as seguradoras não costumam complicar na liberação da cobertura para casos em que o veículo passou por enchente, mas há casos em que elas determinam perda total — normalmente, quando avaliam que o custo para o reparo ultrapassa cerca de 75% do valor do veículo.  Mesmo assim, dá para recuperar o automóvel. “Todo o veículo é recuperável, mas tem de avaliar primeiro o custo-benefício. Tive um cliente que teve o carro alagado e a seguradora deu ‘PT’, mas como o automóvel era financiado, o proprietário perderia dinheiro. Fiz um orçamento de cerca de 1/5 do valor do veículo, o cliente negociou com a seguradora e conseguiu a liberação necessária para fazer o conserto, em um valor mais baixo que aquele orçado pela própria seguradora, que autorizou o serviço por conta e risco do proprietário. O carro ficou perfeito”, revela.

 

Como reconhecer um usado inundado?

Se o serviço de recuperação for mal feito, haverá sinais identificáveis. “A dica é olhar com atenção à parte inferior das borrachas das portas e erguer um pouco uma ponta delas. Vestígios de pó de barro marrom enrustido entre a borracha e a soleira podem indicar que o veículo passou por alagamento e as borrachas não foram retiradas e/ou substituídas. Por outro lado, é identificar algo estranho pelo cheiro, já que os desodorantes automotivos atuais mascaram qualquer vestígio”, alerta Satkunas.

Só que carro alagado também pode ser uma boa oportunidade de negócio. “Uma alternativa viável é comprar um carro após a enchente, pois certamente o dono estará desanimado e para ‘se livrar’ da dor de cabeça poderá dar um bom desconto, de modo a cobrir a despesa de recuperação e ainda sobrar algum troco”, finaliza o conselheiro da SAE Brasil