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18 May 2024
Foto: Reprodução

Axé emplacou apenas duas músicas campeãs do Carnaval em 11 anos

Seis anos se passaram desde que uma canção de axé foi eleita a melhor do Carnaval de Salvador. A última representante do ritmo a conquistar o gosto popular foi “Circulou”, composição de Magary Lord interpretada por Saulo na folia de 2012. Desde então, o ritmo que já reinou no Carnaval de Salvador vem perdendo cada vez mais espaço para outros estilos musicais como o pagode e até mesmo o funk.

Na contramão do declínio do axé está o pagode, ritmo que tem liderado a preferência do público que curte o Carnaval. A banda Psirico exemplifica de forma clara o fenômeno: o grupo liderado por Márcio Victor levou o prêmio de música do Carnaval nos anos de 2008, com “Mulher Brasileira”, 2014, com “Lepo Lepo” e 2015, com “Tem Xenhénhém”. Para Paulo Miguez, vice-reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista na folia momesca, a renovação é fato. “É da própria natureza da festa, principalmente para nós, que nunca nos fechamos em um só ritmo. No caso da Axé [Music], é bom lembrar que tem quase 30 anos que ela reinou quase que sozinha”, pontuou.

Axé só emplacou 2 campeãs em 11 anos

A sensação que os tempos áureos do axé ficaram no passado aumenta a cada ano. Nos últimos 11 Carnavais, período entre 2007 e 2017, o ritmo emplacou apenas duas canções que ganharam a preferência do público e foram eleitas música do Carnaval: Circulou, em 2012, e “Cadê Dalila”, em 2009 — enquanto o dito pagode baiano dominou a festa por sete anos com hits como “Santinha”, de Leo Santana, em 2017, “A Liga da Justiça”, do Leva Nóiz, em 2011, e “Mulher Brasileira”, do Psirico, em 2008.

“Axé morreu, faleceu”

Para o cantor Netinho, um dos principais puxadores de bloco da sua geração, a falta de novos representantes trouxe um veredito triste para o ritmo baiano. “Na minha cabeça o axé morreu, faleceu. Não toca mais em rádio, só toca se pagar. Pra mim, o Axé nunca foi um movimento, pois um movimento, seja do que for, as pessoas que fazem se reúnem para conversar, ver o que está errado. Nunca aconteceu no Axé, só é uma panelinha”, completou Netinho que, criticou ainda o pagode. “Respeito o pagode baiano, mas não gosto”, afirmou.

Possibilidade de se “reinventar”

Mas, para Miguez, a queda do axé pode ser explicada como o esgotamento de um ritmo que foi amplamente difundido. “Não vejo como um problema, vejo como a capacidade que a festa tem de se reinventar, inclusive do ponto de vista musical”, opinou, ao rejeitar ainda a teoria de que haja uma crise no Carnaval da Bahia. “Tem sido sintomático um processo de mudança na festa. Um modelo de negócios chegou a um momento de exaustão. Não é mais a linha do bloco da empresa. Agora parece que o grande negócio vão ser os camarotes”, explicou.

Por Bárbara Silveira/Metro1