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27 April 2024
Ilustração: Pedro Hamdan

Doze mil crianças registradas sem o nome do pai na certidão. O que fazer com essa informação?

Segundo a Associação Nacional dos Registradores Civis de Pessoas Naturais do Estado da Bahia (Arpen-BA), somente em 2020, 12 mil crianças foram registradas no Estado sem o nome do pai na Certidão de Nascimento.

Essa realidade dói! Não é só um “nome” em um “papel”. Essa lacuna gera um vazio que marca uma vida inteira.

O abandono paterno, seja ele físico ou afetivo, é um problema crônico, mundial, de nível pandêmico.

Na minha viagem à Cuba, tive a oportunidade de conversar com algumas mulheres sobre a realidade de lá em relação à criação de filhos.

A notícia é a mesma daqui, a de que muitos pais abandonam seus lares para não ter que lidar com o peso da criação dos filhos. Homens machistas, pouco afetuosos e negligentes.

Curiosamente, alguns desses pais cubanos optam por conviver com outras mulheres que também tem filhos, porém, como esses filhos não são seus, a carga de responsabilidade é menor, e assim seguem negligenciando afeto e cuidado.

Na Bahia e em todo o Brasil a situação não é diferente. Alguns homens ainda não acordaram para a função paterna e, de forma desumana, se dão ao direito de optar por não assumir o posto de pai.

Daí em diante temos algumas formas de lidar com a situação: entrar em guerra com esse pai negligente; manter distância; tentar mediar uma relação saudável entre pai e filho(a); lutar pelo reconhecimento; etc…

Todas essas medidas são escolhas que variam de família a família e é preciso respeitar o tempo e a história de cada uma delas.

A questão é: como lidar com as “crianças sem pai”?

Nesse caso, SÓ HÁ UM CAMINHO: acolher essa criança e dar espaço para que ela fale sobre sua eventual falta. Sem esse espaço para falar sobre sua falta, a criança IMPLODE.

Mas como a criança pode sentir falta do pai que a abandonou?

Por mais que seja duro para uma mãe admitir, esse filho pode, sim, demandar o pai. O significado desse pai para essa criança muitas vezes é diferente do significado desse mesmo pai para essa mãe.

Se eu pudesse dar um recado a cada uma das 12 mil mães dessas crianças “sem pai” de 2020, eu diria:

Seja a melhor mãe “possível”! Não tente suprir a ausência paterna, não é isso que seu filho espera de você! Também não tente tampar o grito de vazio que seu filho eventualmente traga. Ajude a criança a perceber que ela existe, mesmo sem pai! Juntos, vocês se tornarão mais fortes!

E, enfim, se eu pudesse dar um recado a cada um desses pais negligentes, eu diria: cara, ACORDA! Cuidar de filho é coisa de homem! Ser forte não é ser cruel! Sua negligência fere! Pune quem não tem culpa! Limita seu próprio crescimento! Acorda!

 

Otávio Leal, do blog “Pai, vem cá”, é pai de Maria Flor, advogado, consultor parental, psicanalista em formação e autor do livro “Papai foi pra roça, Mamãe foi trabalhar. E agora?”.

O projeto “Pai, Vem Cá!” se tornou parceiro da Defensoria Pública da Bahia e da Revista Pais & Filhos, tendo participado de iniciativas sociais importantes, a exemplo da campanha Poder do Colo, da Novalgina.

Instagram: @paivemca

 

Por Otávio Leal

FONTE: ARATU