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28 March 2024

Economia encolheu 1,89% no segundo trimestre, o pior desempenho desde 2009, diz Banco Central

No ano, contração é de 2,58% segundo o IBC-Br, índice do BC que reforça quadro de recessão técnica no país

BRASÍLIA – Por causa da crise econômica e política, baixa confiança das empresas e das famílias e, consequentemente, retração de investimentos e consumo, a economia brasileira encolheu nada menos que 1,89% no segundo trimestre do ano, nos cálculos do Banco Central (BC). É o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, no auge da crise financeira mundial. Segundo o BC, esse foi o terceiro trimestre seguido de retração — apenas dois períodos já caracterizam o que os economistas chamam de recessão técnica. O dado reforça as apostas de queda de até 2% da atividade neste ano. No ano da turbulência global, a economia recuou 0,2%.

— A diferença é que em 2009, a retração da economia foi reflexo de um choque global. O consumo desabou porque a confiança desabou, mas logo se recuperou por causa dos estímulos dados. O problema é que, por um diagnóstico errado, o incentivo ao consumo continuou quando não precisava mais e gerou inflação e descontrole de gastos públicos — explicou o economista do Banco Espírito Santo (BES) Flávio Serrano. — Agora, estamos passando por um ajuste por causa dos nossos próprios erros.

IBC-BR

De acordo com o índice do BC que mede o comportamento da atividade, o IBC-Br, houve recuo de 2,58% no primeiro semestre e, em 12 meses, de 1,64%. O resultado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre e acumulado no primeiro semestre será divulgado no próximo dia 28 pelo IBGE.

Para controlar artificialmente a inflação, o governo represou aumento de tarifas. Mesmo com a alta das previsões de preços, segurou o aumento dos juros para depois da reeleição da presidente Dilma Rousseff no ano passado. Após a votação, passou a apertar com força a política monetária e impôs um freio à economia. Os dados do BC refletem isso.

O desempenho do segundo trimestre mostrou uma aceleração dessa retração econômica. O IBC-Br foi levemente pior que a expectativa dos analistas do mercado financeiro, que já era de um forte resultado negativo: queda de 1,8%. Em junho, houve queda de 0,58%, também levemente pior do que a previsão dos economistas, que era de retração de 0,55%. Os dados, divulgados nesta quarta-feira, refletem uma sequência de deterioração do desempenho da indústria, do comércio e do setor de serviços.

Na semana passada, o IBGE divulgou Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), que mostrou as vendas no varejo fecharam o primeiro semestre do ano com queda de 2,2%. Foi o pior resultado semestral desde 2003. Já a produção industrial encolheu nada menos que 6,3% nos seis primeiros anos. Desde a crise de 2009, o setor não tinha um resultado tão ruim.

O único setor que ainda está no azul é o de serviços. Na segunda-feira, o IBGE divulgou que a receita teve um crescimento de 2,3% no semestre. Apesar de mostrar avanço, o dado foi o pior da série histórica e representa menos da metade do que foi registrado no semestre imediatamente anterior, quando ficou em 4,7%. Já o primeiro semestre do ano passado teve uma variação positiva de 8,7%.

O LADO BOM

Para os economistas, o lado bom de uma queda tão forte da economia brasileira é o controle da inflação. A expectativa é que o ano encerre com um IPCA de nada menos que 9,32%. É mais que o dobro da meta para o ano, de 4,5%. O BC ainda tinha uma margem de tolerância de dois pontos percentuais, mas a taxa ficará fora dela. E terá de mandar uma explicação formal para o Ministério da Fazenda para dizer o motivo de não ter cumprido seu dever.

— O bom dessa questão é que a gente deve melhorar a questão de inflação. E pode voltar a dar estímulo sem desequilíbrio — frisou Serrano.

Para o economista-chefe da América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, há ainda um outro fator positivo no atual quadro econômico: a alta do dólar. Ele argumenta, num comunicado enviado aos clientes, que isso deve favorecer as exportações e impedir uma queda maior da economia neste ano.

“No lado positivo, uma taxa de câmbio mais competitiva e fracas condições da procura interna deverá gradualmente elevar a contribuição das exportações líquidas para o crescimento e fornecer um piso para a contração esperada de PIB real em 2015”, afirma Ramos.

RECESSÃO TÉCNICA

O termo recessão técnica está longe de ser um consenso. Nos Estados Unidos adota-se como referência o conceito de ciclos econômicos. Quem estima os ciclos da economia americana é o National Bureau of Economic Research (NBER), órgão de pesquisa privado.

Para o NBER, “a recessão é um significativo declínio na atividade econômica disseminada por toda a economia, durando mais do que poucos meses, normalmente perceptível no PIB, na renda, no emprego, na produção industrial e nas vendas do varejo”, segundo a instituição.

DIFERENÇAS NA METODOLOGIA

Tanto o IBC-Br quanto o PIB são indicadores que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O IBC-Br foi criado pelo BC para ser uma referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom), uma vez que o dado oficial do PIB é divulgado pelo IBGE com defasagem em torno de três meses.

O indicador do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).

Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria, os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de exportações e importações.

Por: Gabriela Valente / O Globo