Nos bastidores, igrejas e parlamentares ligados a elas já vislumbram esse possível efeito colateral do novo modelo para eleger deputados embutido na reforma política que o Congresso começou a discutir na quarta-feira (16).
O bloco evangélico, que em 1994 tinha 21 membros, quadruplicou para cerca de 85 (16,5%) dos 513 deputados atuais. Com ou sem “distritão”, um aumento já era esperado para o ano que vem, na esteira do agigantamento dessa fé na população brasileira (menos de 10% no começo dos anos 1990 para 30% hoje).
A meta é superar os 20% da Casa, diz o presidente da bancada evangélica, pastor Hidekazu Takayama (PSC-PR).
Se o Congresso aprovar regras que suprimam o sistema proporcional vigente, a bancada pode sair no lucro.
Professor de sociologia da USP especializado no segmento, Ricardo Mariano aponta o pressuposto “de que que os evangélicos levariam vantagem por serem conhecidos –incluindo aí as celebridades gospel e os televangelistas–, disporem de muitos recursos financeiros, de acesso facilitado a mídias eletrônicas”, fora que não são poucos os pastores capazes de “influenciar o voto de parte de seus adeptos”.
“A maior parcela [dos deputados evangélicos] prefere o ‘distritão'”, diz Takayama, líder da bancada que, em abril, foi orar com Michel Temer no Planalto e aproveitou para reforçar algumas de suas bandeiras: contra o debate da ideologia de gênero nas escolas, o aborto, a legalização das drogas e a permissão que o aluno transgênero use o banheiro que preferir, feminino ou masculino.