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4 May 2024

Farol de Itapuã Abandonado e sem segurança que vergonha Governador

A imagem de Vinícius de Moraes e Dorival Caymmi sentados em uma das pedras do Farol de Itapuã, dedilhando o violão e jogando conversa fora sempre vem à cabeça do líder comunitário Zelito Guimarães, de 53 anos, ao caminhar pela praia.

Ele tinha apenas 16 anos, mas lembra com detalhes do dia em que presenciou os dois ícones da música brasileira reunidos em uma das paisagens mais bonitas da capital baiana. Zelito remonta àquela cena sempre que se depara com o cenário de abandono e degradação da região.

Ele recorda com saudade do tempo em que podia circular livremente pelo Farol, sem se preocupar com a ação de assaltantes nem ser importunado com o som alto dos carros que estacionam próximo à praia: “O Farol de Itapuã era pura beleza. Hoje, é abandono”.

A reclamação do líder comunitário é compartilhada por moradores, comerciantes, visitantes e turistas, que pedem maior atenção do poder público. Eles pedem que a requalificação do bairro, realizada no ano passado e que abrangeu o trecho entre Piatã e a Sereia, seja estendida até o farol, como forma de garantir melhor estrutura e segurança.

De acordo com informações da assessoria de comunicação da Casa Civil da prefeitura, o projeto de recuperação desta área, que está previsto para ser realizado, no entanto, ainda não tem prazo para começar a ser elaborado e executado.

Segurança

A violência é a principal queixa entre os frequentadores do bairro. Nos nove primeiros meses de 2015, foram registrados na Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) 85 homicídios dolosos (com intenção de matar), 173 assaltos a ônibus e 691 casos de roubo de veículos.

O auxiliar administrativo Marcos Sá, 36, que vai à praia do Farol desde criança, conta que já presenciou assaltos e passou a ir menos ao local por conta da ação de bandidos. “A praia do Farol é a minha preferida. Sempre que posso, trago minha filha para brincar no mesmo local onde brinquei quando tinha a idade dela. Mas, por causa dos assaltos, que são constantes, fico apenas poucas horas”, afirmou.

De acordo com informações da assessoria de comunicação da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), o policiamento em todo o bairro é realizado por meio de rondas com viaturas 24 horas, motopatrulhamento, operações com abordagens preventivas e duplas de policiamento ostensivo a pé.

“Nos finais de semana, o policiamento é intensificado com a realização de duas operações em horários estratégicos, visando coibir crimes”, informou a corporação, por meio de nota.

Um contêiner com lixo recepciona os visitantes logo na entrada da praia do Farol de Itapuã

Estrutura

A falta de estrutura para receber visitantes e moradores contrasta com a bela paisagem. Logo no acesso à praia, um contêiner de lixo danificado exala mau cheiro do lixo que não é coletado há cerca de 15 dias.  Na areia, um banheiro químico instalado de forma precária é a única opção para quem precisa utilizar o sanitário.

Representante dos barraqueiros da região do Farol, Atanael Brito atesta que não faltam esforços para receber bem o turista: “Estamos trabalhando sem nenhuma estrutura. Tentamos ao máximo oferecer bem-estar ao banhista, mas tudo que fazemos é na base do improviso”, afirmou.

Carência de infraestrutura preocupa setor hoteleiro

Um projeto de requalificação que abranja a área do Farol de Itapuã é uma solicitação, também, do setor hoteleiro. De acordo com Renata Prosérpio, que dirige o Mar Brasil Hotel, que tem como anexo de suas dependências a casa do poeta Vinícius de Moraes, a falta de infraestrutura e de segurança no local tem afetado o fluxo de hóspedes no estabelecimento.

“Se no início do bairro está tudo arrumado, do farol em diante é só abandono. Apesar da paisagem natural, o turista observa também que a vegetação não está sendo cuidada, que as ruas estão sujas”, afirmou.

Segundo ela, ainda que o hotel ofereça um serviço de qualidade, o turista acaba, muitas vezes, deixando a capital baiana com uma imagem ruim. “Acompanhamos nos sites as avaliações dos turistas que frequentam nossos estabelecimentos e as queixas, muitas vezes, são sempre relativas ao entorno do hotel. Notamos que os assaltos e demais ocorrências são reflexo do abandono da região”, afirmou.

“Tarde em Itapuã”

As turistas catarinenses Marina, 19, Ana, 18, e Ana Maria Sandri, 51, fizeram questão de conhecer o Farol de Itapuã, mesmo estando hospedadas a, pelo menos, 25 quilômetros do bairro.

Elas foram alertadas pelos funcionários do hotel sobre a ocorrência de assaltos no local e, mesmo assim, caminharam por toda a orla da região e fizeram fotos.

“Uma das nossas referências de Salvador era Itapuã, por causa das músicas de Caymmi. Ficamos tristes ao saber que era um lugar violento, mas a beleza é tamanha que até esquecemos as tantas recomendações que nos fizeram. Provamos que é bom passar uma tarde em Itapuã”, brincou Marina.