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23 April 2024
Foto reprodução

Jovem tem celular furtado, vai à delegacia e é espancado por policial por ser gay

Chorando, com a voz trêmula, um jovem de aparência frágil busca forças em sua indignação para denunciar a agressão que diz ter sofrido, na madrugada desta sexta-feira, dentro da 81ª DP (Itaipu), na Região Oceânica de Niterói. Aluno do curso de artes da Universidade Federal Fluminense (UFF), Andrei Apolonio dos Santos, de 23 anos, tinha participado de uma comemoração de fim de período da faculdade e, ao voltar para casa de ônibus, percebeu que estava sem seu celular. Por segurança, decidiu ir à delegacia para registrar o possível roubo. A unidade estava fechada, e ele diz que precisou bater na porta para ser atendido. Segundo o relato dele, acabou recebido de forma ríspida pelo policial, que passou a agredi-lo física e verbalmente. Andrei diz ainda que tentou fugir, mas foi alcançado no estacionamento da delegacia e agredido novamente.

— Ele chegou e já começou com a agressão, a me dar tapa na orelha, muitos socos. Não queria fazer meu boletim de ocorrência — disse Andrei, acrescentando que o policial ficou muito irritado com a sua presença. — Ele ficou muito invocado com meu estilo de ser. Um gay, às 4h da manhã querendo fazer ele trabalhar.

Ainda de acordo com o jovem, as agressões foram acompanhadas por um segundo policial, que não fez nada para impedir a covardia. O estudante também disse que ouviu ameças:

— Ele disse: “Espero que seja esperto. Da mesma forma que fiz você ficar desse jeito, seria capaz de gastar um pente de munição em você.

Assustado, Andrei procurou a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Niterói. Ele e um representante do órgão foram à Corregedoria da Polícia Civil para registrar a ocorrência.

O estudante diz que ficou na delegacia, em poder do agressor, por quase duas horas. Após o ocorrido, por volta das 6h, Andrei conta que o mesmo policial o levou para o Hospital Mario Monteiro, em Piratininga. No entanto, por não se sentir seguro, o rapaz pediu para ir embora. Sob ameças, ele deixou o local e foi para a UFF.

— Eu fiquei com medo e fui para a universidade, mesmo machucado. Uma segurança me abordou, perguntou o que tinha acontecido e me encaminhou para a reitoria. Eles me aconselharam a procurar a Faculdade de Direito e a comissão de Direitos Humanos da cidade — explica Andrei.

Apesar do medo de retaliações, Andrei diz que agora vai até o fim, em busca de Justiça:

— Eu estou com medo, mas sei que estou fazendo o correto, ao não abaixar a cabeça para a injustiça e a maldade. Não sei se todos (as vítimas) terão coragem de mostrar que tem algo errado. Se está errado, tem que melhorar. Ninguém tem que passar o que passei.

Em nota, a polícia civil informou que Andrei foi atendido na corregedoria do órgão pela delegada de plantão Viviane Batista, que determinou o registro da ocorrência e o encaminhou para exame de corpo de delito. Na segunda-feira deve ocorrer o reconhecimento dos policiais acusados da agressão.

Ontem à noite, o secretário estadual de Direitos Humanos, Átila A. Nunes, divulgou nota informando que o programa Rio Sem Homofobia vai dar suporte a Andrei, que está sendo orientado por um advogado da entidade. “A LGBTfobia é um mal que deve ser banido da nossa sociedade. Precisamos respeitar e preservar o ser humano em toda sua diversidade. Este episódio atesta o quanto a luta da população LGBT é imprescindível para avançarmos numa sociedade democrática. Tenho certeza que os órgãos competentes irão investigar e punir dentro da Lei, o responsável por mais este ato violento e cruel”, disse o secretário, em nota.

A assessoria da UFF foi procurada, mas não houve resposta até a publicação da matéria.  O Globo