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11 May 2024

Morre o antropólogo e professor Roberto Albergaria

Amigos e admirados lamentam morte do antropólogo

Sempre que descrevia a Bahia, o antropólogo e historiador Roberto Albergaria de Oliveira conseguia unir descontração e um tom apocalíptico. Ontem, a região onde vivia na Cidade Baixa amanheceu cinza, pesarosa e com um cenário que seria propício para suas análises, que eram sempre seguidas de gargalhadas fartas. Porém, a semana terminou sem o seu riso na casa do bairro da Boa Viagem, onde foi encontrado morto por amigos.

Aos 61 anos, Albergaria era professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e ganhou popularidade por suas participações como comentarista de assuntos do cotidiano baiano na Rádio Metrópole, onde atuou por 15 anos.

Ontem, quando o diretor de Tecnologia da rádio, Marcos Meira, resolveu fazer uma visita ao antropólogo, por volta das 13h30, pediu para o vizinho e amigo Sérgio Macedo para que o acompanhasse. Sérgio foi quem teve com ele pela última vez ainda com vida. “Ontem (anteontem) de noite estava com ele e conversamos sobre diversas coisas. Me despedi e disse que traria almoço para ele no outro dia”, contou Sérgio, que o considerava como “seu filho mais velho” – mesmo sendo mais novo – e, inclusive, o levava para todos os lugares e tinha a chave de sua casa.

Os dois se depararam com o corpo do historiador caído de bruços. “Depois de 20 anos de amizade, ainda não caiu a ficha. Quando cair, vai ser difícil”, disse Macedo.

“Ele era hipertenso e tomava remédios. O que importa é que ele morreu íntegro e tinha uma cabeça muito boa. Era muito brincalhão e gozador. Mesmo sendo meu amigo, era um chato de galocha. Ele não dizia na cara, cuspia”, acrescentou o amigo. “Cê tá entendendo?!”, diria Albergaria aqui para dar uma pausa no raciocínio, como costumeiramente fazia.

Uma vizinha que não quis se identificar revelou que Albergaria estava agitado no dia anterior. “Foi o dia todo assim. Ele estava muito estranho e desacreditado. Normalmente a gente o ajudava, por conta da cadeira de rodas (que ele estava em função do agravamento da sua locomoção), mas ontem ele não estava querendo a ajuda de ninguém. Chamamos a polícia durante o dia para tentar acalmá-lo e pela noite chamamos o Samu”, revelou.

De acordo com a delegada Marilena Lima, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que acompanhou a perícia, ainda não se sabe a causa da morte do antropólogo. “Não há indícios de violência. Na casa dele tinham algumas garrafas de uísque, cheias e vazias, e muitos medicamentos. Precisaremos esperar a avaliação do Instituto Médico Legal”.

Secretária de lar de Albergaria há 27 anos, Joana de Jesus contou que o seu último contato com o professor foi na última terça-feira. “Quando cheguei, ele já tinha ido. Tomei um susto, estou muito triste”, lamentou. De acordo com Joana, ele era muito sozinho e não tinha proximidade com a família. “Só conheci um irmão dele, que esteve aqui há 15 anos”, destacou.

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