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6 October 2024

Nervosismo dos brasileiros em campo expõe fragilidade do time

Durante o jogo e na disputa de pênaltis contra o Chile, os brasileiros demonstraram notável nervosismo, inclusive com alguns chorando copiosamente após o triunfo.

Capitão Thiago Silva, que deveria passar segurança, não queria participar da disputa de pênaltis de jeito nenhum e tornou-se um retrato da instabilidade emocional do time brasileiro (Foto: AFP)

Uma Seleção sentimental. Estádios lotados de brasileiros, Hino Nacional tocando e as lágrimas vêm aos olhos dos jogadores. O jogo aperta, a marcação é forte, todos querem tirar a vaga dos donos da casa.

Chega a hora dos pênaltis e lá vêm as lágrimas de novo, junto com expressões de incerteza. Não é fácil a disputa pelo hexa e os jogadores têm deixado claro que é difícil segurar a emoção.

De emoção, quase todo mundo gosta. O problema é quando isso afeta o desempenho. Durante o jogo e na disputa de pênaltis contra o Chile, os brasileiros demonstraram notável nervosismo, inclusive com alguns chorando copiosamente após o triunfo.

Antes da disputa, o capitão Thiago Silva se isolou do grupo e, sentado, manteve o olhar distante e marejado. Depois, admitiu que chegou a pedir a Felipão para ser o último a fazer a cobrança, caso fosse preciso – até mesmo depois do goleiro Julio César.

Apesar disso, ontem, por meio das redes sociais, ele desmentiu que estivesse se sentindo derrotado. “As pessoas julgam sem saber o que está acontecendo! Pra quem falou que eu estava derrotado nesta foto aí sentado na bola, estava muito enganado, sou brasileiro e não desisto nunca. Apenas queria um momento meu pra fazer minha oração”, justificou.

Para a psicóloga Suzy Fleury, que já trabalhou com a Seleção (com Vanderlei Luxemburgo), um jogador não pode deixar a autoestima afetar o seu trabalho. “Escutei esse depoimento em que ele disse que não queria fazer a cobrança porque não tinha confiança por outros dois pênaltis que já perdeu. A trajetória dele é longa e não pode focar nesses dois momentos. Eu não sei até que ponto ele, como líder, está passando isso para os jogadores”, disse Suzy ao CORREIO.

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O psicólogo Cláudio Seal ressalta a importância do capitão em campo. “Um líder precisa passar confiança e segurança para os outros jogadores e isso depende também de como o grupo enxerga o isolamento dele, que pode ter passado fragilidade”.

Na falta do capitão, quem tratou de incentivar os jogadores antes das penalidades foi Paulinho, que pediu aos companheiros que pensassem em suas famílias, que estão mais perto dos atletas durante o Mundial e podem até visitá-los na Granja Comary, em Teresópolis-RJ.

Foco

Suzy também critica o fato de a própria comissão técnica supervalorizar o fato de a Seleção jogar em casa. “A comissão técnica dá atenção ao hino, aos jogadores individualmente, mas não deveria ser assim. O foco do atleta deve ser apenas no que ele tem que fazer e não nesses fatores externos”, opina a psicóloga.

E o hino tem mesmo deixado os jogadores à flor da pele. Na estreia no Mundial, Thiago Silva e Neymar foram às lágrimas. “Naquele momento vai começar o jogo e ele precisa estar concentrado. Aí você vê Neymar chorando e percebe que ele não está concentrado para o que vai fazer logo mais”, avalia Suzy Fleury.

A postura da Seleção não deve mudar, já que o próprio Felipão assumiu que vai com isso até o fim. Então, é tentar fazer que o excesso de emotividade jogue a favor, como explica o psicólogo Cláudio Seal. “O contato com a família, por exemplo, pode melhorar toda essa pressão”, diz.

Seal, entretanto, lembra que esse momento depende muito da maturidade do atleta. “Quanto maior a maturidade do jogador, menos tudo isso vai influenciar na atuação”, diz.  Preparados ou não, os jogadores folgaram ontem e voltam a treinar hoje. Sábado tem a Colômbia, nas quartas.