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27 July 2024

Protesto de mulheres na Esplanada pede Justiça para o caso Marielle

Cerca de 2 mil pessoas participaram de um cortejo carnavalesco, nesta sexta-feira (8/3), para marcar a mobilização em torno do Dia Internacional da Mulher. A marcha saiu da Rodoviária do Plano Piloto em direção ao Congresso Nacional. Com o lema: “Pela vida de todas as mulheres, resistiremos”, as participantes do evento pediram justiça para Marielle Franco, vereadora do Psol que lutava pelos direitos humanos e assassinada a tiros dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, Região Central do Rio de Janeiro.

Duas faixas da via S1 ficaram fechadas para que o público caminhasse. O evento foi dividido em alas, com temas relacionados aos direitos das mulheres e contra a violência. Todas foram animadas pela música das Guerrilheiras das Fanfarras, Guerreiras de Batuque, Bloco de Afoxés, Batalá e a Ciranda da Martinha do Coco.

O Congresso Nacional foi colorido com a cor rosa em homenagem às mulheres. A marcha também passou pelo local com tom político e pedidos feitos pelo público feminino em todo o país: “Parem de nos matar”.

JP Rodrigues/Metrópoles

A manifestação também abordou a ameaça a direitos sociais e trabalhistas, reforma da Previdência e valorização da Lei Maria da Penha e da Casa da Mulher Brasileira. O cortejo ainda tratou dos direitos da mulher sobre o próprio corpo e luta pelo desarmamento.

Violência
De acordo com informações da segunda edição do estudo Visível e Invisível — A Vitimização de Mulheres no Brasil e do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2017, a cada nove minutos, uma mulher sofreu estupro. Além disso, diariamente, 606 casos de lesão corporal dolosa — quando é cometida intencionalmente — enquadraram-se na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).

O elevado número de estupros envolve um outro crime multiplicado na sociedade brasileira: o assédio sexual. Dados de 2015 da organização não governamental (ONG) Think Olga, as brasileiras são sexualmente assediadas, pela primeira vez, aos 9,7 anos de idade, em média.

Em 2013, a pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e Assassinatos de Mulheres, elaborada pelo Data Popular Instituto Patrícia Galvão, revelou que quase metade dos homens (43%) acreditava que as agressões físicas contra uma mulher decorrem de provocações dela ao ofensor. A proporção foi menor entre as mulheres: 27%.

De janeiro de 2014 a outubro de 2015, informou a ONG Think Olga, as buscas por palavras como “feminismo” e “empoderamento feminino” cresceram 86,7% e 354,5%, respectivamente.

Mercado de trabalho
A aspiração à justiça econômica também garante a aderência de muitas mulheres às passeatas. De acordo com documento divulgado nessa quinta-feira (7), pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a diferença está presente nos contracheques. A entidade apontou que as mulheres ganham, em média, salário 20% menor que o dos homens.

O Banco Mundial estimou que a desigualdade de gênero estendida ao ambiente profissional custa ao mundo US$ 160 trilhões. A quantia está relacionada à significativa participação feminina no mercado de trabalho, pois as mulheres representam, no mínimo, 40% da força laborativa em 80 países, de acordo com o Pew Research Center.

Dupla jornada
No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais mulheres entre os trabalhadores com ocupações por tempo parcial (até 30 horas semanais) do que homens. Elas são as principais responsáveis pelo cuidado de pessoas e afazeres domésticos, perfazendo, por semana, três horas a mais de trabalho do que os homens. A disparidade salarial chega a ser de 23,5% no país, outro desafio a ser enfrentado.

Para a terapeuta de ThetaHealing Rosana Almeida, deve-se ter cuidado com idealizações do que é ser mulher, sobretudo quando restringem as ambições da população feminina ou enaltecem a imagem da mulher que tudo resolve, porque reforçam estereótipos de gênero.

“(Isso) é algo imposto a imagem da mulher maravilha, da guerreira: ‘Guerreira, você sustenta a casa. Guerreira, você cria seu filho sozinha.’ Isso é uma coisa que fica imposta, uma pressão que tá aqui ativa, de que você vai ter que lidar sozinha, lutar o tempo inteiro”, disse. “Não que esse processo de conquista seja uma coisa ruim, mas a luta em si o tempo inteiro, essa sobrecarga vai nos deslocando do principal, que é ser mulher”, acrescentou.

Para Rosana Almeida, as mulheres, em geral, têm questionado os papéis que foram historicamente associados a elas. Assim como os homens, que, na sua opinião, têm se mostrado mais propensos a viver de outras formas. “Isso é uma mudança. Há muita coisa ainda imposta, registrada como sendo papel a ser feito. Cada vez mais, as mulheres estão querendo romper com isso ou adoecem, e é inevitável querer mudar.”