
Taxistas em luta: um grito de liberdade contra opressão e retaliação em busca por dignidade
Quem utiliza os serviços prestados por milhares de taxistas auxiliares em Salvador não consegue imaginar as condições de trabalho a que esses profissionais são submetidos. Essa categoria de trabalhadores não consegue o alvará, determinado por lei, para exercer a função sem ser obrigada a se submeter aos taxistas permissionários com alvará, donos dos veículos na capital baiana.
Enquanto uns lucram com permissões públicas, taxistas que realmente exercem a profissão atuam em condições precárias. A legislação permite que cada permissionário tenha até dois taxistas auxiliares colaboradores. Entretanto, isso tem preço: quem não tem um veículo paga aos donos dos veículos diárias que variam de R$ 800 e podem chegar a R$ 1000. Além de pagarem esse tipo de aluguel do carro para trabalharem, os taxistas auxiliares são responsáveis por parte da manutenção e do abastecimento do veículo.
Os trabalhadores taxistas têm uma difícil jornada de trabalho e passam por uma série de dificuldades com medo até de sofrer retaliações com ameaças, caso tentem disputar a concorrência para pegar um cliente, ou até mesmo, fazer qualquer coisa para reivindicar direitos trabalhistas.
Realidade nua e crua
O taxista auxiliar Carlos Costa, que é também presidente da Associação dos Taxistas Auxiliares da Bahia (ATAXI-BAHIA), relatou sua vida como taxista auxiliar em audiência pública realizada hoje (18) pela manhã, na Câmara de Vereadores, proposta pelo vereador Everaldo Augusto, autor do Projeto de Lei 146/2015 que regulamenta a situação dos taxistas auxiliares em autônomos e autor do requerimento que pediu a sessão de hoje, com representantes de outras entidades sindicais e do Ministério Público do Trabalho (MPT). Ele contou que trabalha há 14 anos como taxista e paga uma diária de quase R$ 700,00.
Carlos relata que os taxistas auxiliares da cidade pagam verdadeiros absurdos locando alvarás, são explorados, mas se acovardam em vez de protestar. “Eles se submetem a péssimas condições de trabalho a que são relegados. Viram noites e madrugadas em corridas para fugir do prejuízo, com jornadas que ultrapassam 12 horas. A eles não são assegurados direitos básicos, como férias ou 13º salário. Alguns nem sequer conseguem folgar aos finais de semana. Conheço alguns que vão passar a pagar R$ 880,00. Sou contra a diária e contra o táxi clandestino”, denunciou Costa. “Ainda assim, sonham com a dignidade de conseguir sua permissão através de alvará”, completou o taxista.
O taxista critica o secretário de Mobilidade Urbana (Semob), Fábio Mota, ausente na audiência pública, que declarou que não reconhece o serviço de táxi como serviço público. “Nós estamos à deriva. Não somos nada para os órgãos públicos. Somos tratados como cachorros pela prefeitura. Nós temos o nome de uma profissão, mas não somos uma profissão porque não somos regulamentados. Gostaria que a Prefeitura olhasse mais pela gente. Só queremos trabalhar em melhores condições e ganhar o nosso pão de cada dia honestamente”, defende o taxista.
De acordo com o presidente da ATAXI-Bahia, uma das reivindicações desses trabalhadores, que durante a audiência pública invocaram palavras de ordem com gritos de “liberdade, liberdade”, é para que a Prefeitura regularize os auxiliares que trabalham dignamente e os reconheçam como profissionais deste serviço de utilidade pública. “Nós estamos à deriva. Não somos nada para os órgãos públicos. Somos tratados como cachorros pela prefeitura. Nós temos o nome de uma profissão, mas não somos uma profissão porque não somos regulamentados. Gostaria que a Prefeitura olhasse mais pela gente. Só queremos trabalhar em melhores condições e ganhar o nosso pão de cada dia honestamente”, defende Carlos.
Exploração ao extremo
Já o taxista Isaac Silva dos Santos, de 44 anos, que está há 15 anos na atividade, se revolta também com a discriminação que sofre, até por colegas de profissão. “Quem tentar buscar um passageiro é ameaçado. Já aconteceu comigo. Quando um cliente tentou entrar no meu carro foi impedido por um grupo de taxistas”, denunciou Isaac. O taxista defende também sobre a questão dos alvarás, que cria a possibilidade de se tornar autônomos. Mas acredita na ajuda das autoridades competentes para tentar mudar a situação. A nossa luta é para termos dignidade no trabalho”, exige Isaac.
A vida como ela é
Em seu discurso emocionado durante a audiência pública realizada hoje pelo legislativo de Salvador, a representante do núcleo dos familiares dos taxistas, Marleide Nogueira, que é também filha de taxista que morreu trabalhando na atividade, abriu o jogo e denunciou que a situação é tão grave que a mesma chegou a contar que um taxista não sabia se pagava o aluguel da casa ou se pagava a diária do táxi para trabalhar.
“Os taxistas são guerreiros e a luta árdua que eles travam diariamente contra este sistema cruel, explorador e desumano é a minha luta e a luta dos seus familiares. É necessária a união. A união é fundamental, porque não é fácil se expor e sofrer retaliações. Esse sistema de táxi é podre, sujo , imundo e ninguém quer colocar o dedo na ferida”, desabafou Marleide.