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27 July 2024

Trajetória de tragédias e adversidades mostra que mãe dos irmãos Minotauro e Minotouro é a primeira lutadora da família

A área de quase 70 metros quadrados do octógono é pequena para Marina Correia. Seu combate é na vida. A história de superação da mãe dos irmãos Nogueira, Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, ajuda a entender de onde os gêmeos mais badalados do MMA herdaram o espírito de luta.

A baiana de 67 anos não foi poupada das pancadas. A primeira foi a perda da irmã, num acidente de carro, em 1979, que a fez adotar os quatro sobrinhos. Com os cinco filhos, passou a cuidar de nove crianças.

— Quando o pai pediu de volta eu não gostei. Mas, mesmo contrariada, tive que entregá-los, né? Até hoje me chamam de mãe — conta Marina.

Marina Correia, os gêmeos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro e a familia reunida
Marina Correia, os gêmeos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro e a familia reunida Foto: Arquivo pessoal

Usar vestimentas idênticas está longe, porém, de ser a experiência mais curiosa que Marina os obrigou a passar. Conhecidos pela força e habilidade dentro do octógono, os dois já mostraram talento num show de dança flamenca na academia da mãe, em Salvador, onde a família morava:

— Quando eles tinham uns 12 anos, eu os chamei para participar de uma apresentação de dança espanhola. Primeiro, eles acharam que tinha a ver com balé. Mas expliquei que iriam lutar com espada. Aí, eles se animaram. Fizeram muito sucesso. Rodrigo até arrumou uma namoradinha.

O sonho americano

Como vida de lutador é estar sempre pronto para a briga, ela também não se deu por vencida quando o Plano Collor confiscou sua poupança, em 1990. Fez as malas, despediu-se dos filhos, que ficaram com o ex-marido, e foi para a Flórida, nos Estados Unidos, em busca de um recomeço:

— Fui muito julgada. Não era comum a mãe sair para buscar uma vida melhor e deixar os filhos com o pai.

Foi nos EUA que Marina reergueu sua vida e ajudou a impulsionar a carreira dos filhos lutadores. Mas o final feliz desse sonho americano só foi alcançado depois de enfrentar mais adversidades. Por conta do confisco da poupança no Brasil, o dinheiro era escasso. O apoio de uma prima, que a recebeu em casa, e o trabalho de babá, sua fonte de renda nos primeiros meses, foram fundamentais.

— Durante seis meses fui “baby sitter”, estudava à noite e dividia o quarto com a filha da minha prima — conta.

Marina ao lado do filho Rogério
Marina ao lado do filho Rogério Foto: Arquivo pessoal

O estudo era para obter o diploma de técnica em quiropraxia. E foi na sala de aula que ela se viu diante de outra dificuldade: o idioma. Mas não faltou força de vontade para superá-la.

— Meu inglês não era bom. Ficava até de madrugada traduzindo as apostilas — conta Marina que, com o diploma e a abertura da clínica, obteve o visto permanente.

Os problemas, hoje, são apenas lembranças. Que serão transformadas em um segundo livro, sobre a vida de um imigrante nos EUA. Ainda não há uma data prevista para o lançamento.

Marina ao lado de Rodrigo, o filho que mais lhe gera preocupação
Marina ao lado de Rodrigo, o filho que mais lhe gera preocupação Foto: Arquivo pessoal

Mas Marina também experimentou vitórias. E por nocaute. Nos EUA, especializou-se em medicina oriental, abriu uma clínica e recebeu de volta alguns filhos. Como Rodrigo, que fez lá seus primeiros duelos como profissional.

— Botei uns tatames numa sala da clínica e, sempre que ele viajava para lutar, dava meu carro e um dinheirinho. Era o meu patrocínio — brinca: — Ele abriu logo uma academia e ficou nela até ser chamado para lutar no Japão